Muitos protestantes defendem que o homem é formado por corpo, alma e espírito. Um erro que cometeram inúmeros hereges semipelagianos¹, esta crença da tricotomia é atribuída por muitos estudiosos a Apolinário de Laodicéa, que viveu de 310-390 D.C. Tal doutrina encontrou ressurgimento e apogeu com alguns teólogos protestantes na Alemanha no período moderno, ao afirmarem a tricotomia, muitos julgaram que além da alma e do corpo, o homem possui uma partícula divina, a que chamam de espírito (pneuma em grego). Baseados em dois versículos bíblicos que iramos citar.
A teologia católica entende que o homem é formado de Corpo e Alma, sendo assim um ser material e espiritual, a exemplo das elucidações das Sagradas Escrituras como durante a narração da criação do homem por Deus, “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente.” Gen 2,7; vale observarmos que Deus formou o Homem do barro, ou seja, trata-se do corpo e inspirou nele sopro de vida que o fez ser vivente, ou seja a alma que anima o corpo.
Bem só há dois versículos nas sagradas Escrituras que são utilizados pelos defensores da tricotomia, a primeira delas em I Tess 5,23: “O Deus da paz vos conceda santidade perfeita. Que todo o vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!” aqui como analisam ligeiramente muitos protestantes sem tanta profundidade, tiram eles a conclusão de que o homem é tri-partidario, basta nos um breve explicação:
O texto de São Paulo citado acima “Que todo o vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tessalonicenses, 5, 23) ou, mais ainda na carta aos Hebreus (IV,12), é explicado pelos exegetas católicos, como por exemplo o Pe. J.M. Bover S.J., em seu livro Teologia de San Pablo, como uma distinção que o Apóstolo faz de dois aspectos da mesma alma: enquanto princípio de animação do corpo e enquanto elemento puramente espiritual que sobrepassa e sobrevive ao corpo, sob forma de inteligência e vontade utilizando o termo “espírito” como refletido por São Tomas de Aquino em sua Suma Teológica.
Também os Padres da Igreja já tinha concebido a ideia de dicotomia entre eles Santo Agostinho no séc. IV. Voltando ao versículo o termo “espírito, a alma e o corpo” preparado para a vinda de Nosso Senhor, tem por finalidade e significa uma entrega total do homem inteiro “de todo o ser”, como diz o mesmo Apóstolo, sem reserva alguma, a Deus Nosso Senhor.
O uso dos termos, alma e espírito aparecem também em outros lugares da Escritura, como no caso do Cântico de Nossa Senhora, “Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria” (São Lucas, 1, 46-47), é um modo enfático de dizer que todo o ser se engaja, se entrega, exulta, com a ação de Deus.
Vejamos o que as Sagradas Escrituras falam em plenitude sobre a confirmação da dicotomia (duas partes), como aceito na Igreja Católica:
“antes que a poeira retorne à terra para se tornar o que era; e antes que o sopro de vida retorne a Deus que o deu” Ecle 12,7. alusão ao destino do corpo que é a terra, e o sopro de vida, a alma ou espírito como é interpretado por muitos exegetas, que volta para Deus.
“seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua almaseja salva no dia do Senhor Jesus.” I Cor 5, 5:
“A mesma diferença existe com a mulher solteira ou a virgem. Aquela que não é casada cuida das coisas do Senhor, para ser santa no corpo e no espírito; mas a casada cuida das coisas do mundo, procurando agradar ao marido” I Cor 7, 34. O espírito aqui é alma como tratado acima.
“Depositários de tais promessas, caríssimos, purifiquemo-nos de toda imundície da carne e do espírito, realizando plenamente nossa santificação no temor de Deus.” II Cor 7, 1: mas uma vez o Espírito aqui é a racionalidade ou a mente podemos colocar inteligência, à vontade caracteres da alma.
Há muitos outros versículos que refletem esta realidade. Os protestantes se assegura-se em dois versículos e acabam por esquecer as demais obras que integram o Cânon bíblico, (Tg 2, 25). (1 Sm 1, 10); (Is 54, 6); (Jo 12, 27); (Jo 13, 21); (At 17, 16); (I Pd 2, 8). (Lc 1, 46-47); (Mc 12, 30). (Tg 1, 21); (Gn 35, 18); (1 Rs 17, 21); (Mt 10.28); (Sl 31, 5); (Mt 27, 50); (Lc 8, 55); “Então Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lc 23, 46); (At 7, 59) (Mt 10, 28): (Ap 6, 9); (Hb 12, 23); (I Pd 3, 18-20).
Nota:
semipelagianos¹: Teoria herética que entre alguns pontos tratava da salvação individual, foi condenada pela Igreja no século IV; especificamente nos Sínodos de Orange em (441 e 539) na França [em 431 o Concilio de Éfeso já havia condenado a doutrina de Pelágio, donde deriva o pensamento semipelagianista].