
Qual você acha que é o papel da Eucaristia na iniciação cristã? Não é o caso de retomar aqui toda a doutrina sobre a Eucaristia. Só vou pôr em relevo alguns aspectos que são fundamentais para que você, feito cristão pelo Batismo e pela Crisma, encontre na Eucaristia como que o“ambiente perfeito” no qual irá viver e desenvolver sua vida divina.
Antes de tudo é bom recordar que Eucaristia não é só “comunhão eucarística”, nem só “adoração ao Santíssimo Sacramento”. É bom lembrar também que tanto o Batismo quanto a Crisma inserem você na “comunhão eclesial”, isto é, na comunidade dos que aderem a Jesus, a Igreja. Sem Igreja não há Eucaristia, como sem Eucaristia não há Igreja; portanto, sem Igreja também não tem sentido pretender ser cristão; de fato, não existe um cristianismo “individual” (para não dizer “individualista”).
Aquele que “foi feito cristão” pelo Batismo e pela Crisma, se quiser desenvolver em si a vida divina, deve começar por participar da celebração eucarística, particularmente no Dia do Senhor (o Domingo), a fim de unir-se a todos os membros da comunidade eclesial e, com eles, adorar, louvar, agradecer ao Pai pelo dom da “filiação divina” e por todos os dons e benefícios que Ele, em seu amor, concedeu a você, aos outros membros da comunidade, à Igreja inteira, à humanidade toda e ao mundo.
A Eucaristia, em primeiro lugar é, de fato, a mais perfeita “ação de graças” ao Pai, a mais perfeita oração, presidida pelo próprio Jesus, a mais perfeita comunhão com o Pai, com Jesus e com os membros da comunidade que o Espírito Santo cria e anima. Como lhe disse acima, participar da Eucaristia é mergulhar no mais adequado “ambiente” que faz com que você possa desenvolver os dons que recebeu no Batismo e na Crisma. É na hora em que esse “ambiente” é criado pela celebração eucarística que você reforça sua Fé, Esperança e Caridade; revê sua vida para um sincero esforço de conversão; assume compromissos de maior vivência do Evangelho; enfim, a Eucaristia é o “ambiente” ideal para você se tornar sempre mais cristão. Participar assim da Eucaristia é uma primeira forma de “comunhão”: comungar com os irmãos e irmãs, reunidos em torno de Jesus, animados pela presença do Espírito, para ir ao encontro do Pai de todos os dons. Diria que esta é a dimensão “eclesial” da Eucaristia.
A Eucaristia é também o sacrifício de Jesus sob os sinais de pão e de vinho, sacrifício que Ele, em seu amor ao Pai e por nós, consumou no Calvário, movido pelo Espírito Santo, que o levou a fazer o maior ato de amor que jamais se viu brotar de um coração humano. Ora, toda vez que se celebra a Eucaristia torna-se presente aqui e agora o sacrifício de Jesus. Você, participando da celebração eucarística, junto com os demais participantes, é como que “arrastado” pelo ato de amor de Jesus a se oferecer ao Pai junto com Ele, em gesto de obediência, de arrependimento, de conversão, de salvação do mundo inteiro. Você não é um assistente mudo do sacrifício; você de fato participa dele, torna-o seu, envolve nele toda a sua vida, todos os seus pecados, todo o seu amor arrependido, todas as suas dores, seus fracassos, mas também todos os seus esforços para viver amorosamente à imitação do amor de Jesus pelo Pai e por nós.
E quem está “por trás” de todo esse movimento que, da terra, por Jesus, com Jesus e em Jesus, se eleva ao Pai? O Espírito Santo. Por isso, participar da Eucaristia é também “comungar” com o sacrifício de Jesus, em obediência ao Pai, animado pelo Espírito, para a salvação de todos. Como você pode observar, também aqui, nada de individualismo: tudo é “comunhão”. Esse é o momento em que seu Batismo e sua Crisma adquirem sentido mais profundo: filho/a de Deus, animado pelo Espírito Santo, você se deixa pregar na cruz junto com Jesus. Sua identificação com Ele se aproxima do seu ponto alto.
Por fim, chega a hora da comunhão eucarística. Participar da carne e do sangue de quem foi imolado em sacrifício é um gesto de identificação com a vítima, Jesus: Ele em você, você nele! Não pode haver comunhão maior. Unido a Jesus pela comunhão eucarística, você se torna uma coisa só com Ele; unido a Ele, você mergulha na comunhão que existe entre Ele e o Pai no amor do Espírito Santo. De verdade, recebendo Jesus eucarístico, na prática, você “recebe” também o Pai e o Espírito Santo, pois os três são inseparáveis. Se o Batismo gerou você como filho/a, se a Crisma tornou você templo do Espírito Santo, ao comungar a Eucaristia, Jesus o “arrasta” para dentro da comunhão trinitária, onde se dá a perfeita unidade, a plena salvação, a eterna felicidade. Deve-se dizer que a comunhão eucarística é a realidade presente e a antecipação sob sinais da eterna “comunhão” com Deus, e nisto consiste a salvação.
Como você percebe, a Eucaristia é de fato o “ambiente” em que o Batismo e a Crisma encontram sua maior profundidade e expansão. A Eucaristia é o acontecimento em que você, em Jesus e por Jesus, se transforma sempre mais em filho/a de Deus e se deixa conduzir pelo Espírito Santo a crescer como “pequeno deus”. Não você sozinho, mas com toda a comunidade que celebra a Eucaristia. Daí é que deriva o compromisso próprio da Eucaristia: quem participa das três “comunhões” de que há pouco falamos deve também entrar em comunhão com todos os membros da Igreja (esta é uma quarta “comunhão”) e com toda a humanidade. Se não há comunhão eclesial sem Eucaristia, também não pode haver Eucaristia autêntica sem comunhão na caridade, sem compromisso de amor fraterno e de solidariedade. É assim que o Batismo, a Crisma e Eucaristia, sacramentos da iniciação cristã, fazem o verdadeiro discípulo/a de Jesus.
Dom Hilário Moser, SDB, é bispo emérito da Diocese de Tubarão (SC)