quinta-feira, 21 de abril de 2011

Santificados pela Esperança - Professor Felipe Aquino

 A razão principal de buscarmos a santidade é atingir o objetivo e meta da nossa vida, que é a união e comunhão com Deus, aqui na terra, e, de modo pleno e definitivo, na eternidade, no Céu. A Carta aos Hebreus diz que sem a santidade "ninguém pode ver o Senhor" (Hb 12,14); quer dizer, ninguém participa do prêmio da bem-aventurança para a qual fomos criados. Portanto, a busca da santidade exige que nós tenhamos "um grande desejo do céu." 

A maioria das pessoas, mesmo os cristãos, passam a vida lutando para "construir o céu na terra". É um grande engano. Jamais construiremos o céu na terra; jamais a felicidade será perfeita no vale em que o pecado transformou num vale de lágrimas. 
Ao fazer com que todas as coisas fossem precárias, passageiras, efêmeras, pouco duráveis, Deus quis nos ensinar que esta vida terrena é passageira, e não a nossa morada definitiva. 
Enquanto não decidirmos buscar o céu, acima de tudo, abrindo mão das consolações efêmeras dessa vida terrena, não estaremos preparados para dar início à caminhada da santidade. 
Todos os que se santificaram despojaram-se desta vida, desprenderam-se das satisfações da terra, ansiavam pelo Céu, e, por isso, aguardavam com expectativa a morte, como um feliz nascimento para Deus. Cada vez que Santa Teresa D'Avila ouvia o relógio bater as horas, dizia consigo mesma: "uma hora a menos"!  Por que temos tanto medo da morte? Por que fugimos tanto dela? 
Sejamos sinceros, a resposta é que ainda estamos muito enraizados nesta terra. Nossas aspirações ainda não estão no Céu, mas na terra. 

Na medida que formos nos tornando santos, o medo da morte vai desaparecendo e será, lentamente, substituído pelo "desejo de morrer". Esta é a prova, de fato, se a santidade começa a nos envolver. Diria que é a "prova de fogo" para cada um de nós. 
Somente quando "nada" prender o nosso coração neste mundo, nem pessoas, nem bens, nem realizações, mas somente Deus seja a nossa "única" consolação, só então poderemos dizer que estamos, de fato, adentrando ao castelo da santidade, onde Deus reside, e nos chama para viver para sempre. 
É claro que isto é muito difícil para cada um de nós, mas é a meta a que todos somos chamados, sem exceção. Por mais distante que esta meta possa parecer estar de nós, no entanto, não devemos nem desanimar e nem desesperar; mas, tão somente, busca-la a cada dia, com a graça de Deus e com perseverança. É tarefa para a vida inteira, é para isso que Deus nos dá uma longa vida e muitos meios de santificação. É preciso ter a esperança de Santo Agostinho que dizia consigo mesmo: "se muitos o conseguiram, eu também conseguirei". 

Santo Afonso de Ligório ensina que até a própria morte é motivo de nossa santificação: "Que melhor penitência do que aceitar com resignação a morte, se Deus assim o quer? " E orava: "Senhor, fazei"me morrer porque, se não morro, não posso vos amar e vos ver face a face". Apesar desta prece, morreu com mais de noventa anos. 
Não tinha dúvidas em afirmar: "Aceitarmos a morte que Deus nos apresenta e conformarmo-nos com a vontade divina é merecermos uma recompensa semelhante à dos mártires". 
São João da Cruz, também ele doutor da Igreja, expressa bem o sentido da morte para o santo: 
"Para quem ama, a morte não pode ser amarga, pois nela se encontram todas as doçuras e alegrias do amor. Sua lembrança, não é triste, mas traz alegria. Não apavora, nem causa sofrimento, pois é o término de todas as dores e o início de todo o bem".
Esse aspecto da morte: "término de todas as dores", era de fato relevante para os santos, pois, para eles a vida é uma luta, como dizia São Paulo, "o bom combate" (2 Tm 4,7). É nesse sentido que o Apóstolo dizia que: "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro" (Fil 1,21). 

Quando nós também pudermos dizer isso, convictamente, estejamos certos de nossa santificação. Santa Teresinha não se cansava de exclamar: 
"Tenho sede do Céu, dessa mansão bem-aventurada, onde se amará Jesus sem restrições. Mas, para lá chegar é preciso sofrer e chorar; pois bem! Quero sofrer tudo o que aprouver a meu Bem Amado, quero deixar que Ele faça de sua bolinha o que ele quiser". 

O que nos amedronta ainda muito diante da morte e impede que tenhamos essa "sede do céu", que caracteriza a vida dos santos, é não termos uma visão adequada da beleza e da glória do Céu. Algo que grita na alma de todos os santos é : "de que vale a terra quando olho o céu? " Muito mais do que nós eles vêem as belezas visíveis como pequenas e simples amostras de uma beleza infinita e de um gozo inefável em Deus. É urgente resgatar essa real visão do céu para que possamos deseja-lo. 
Em primeiro lugar é preciso ter a consciência de que, se por um lado, a morte nos tira da convivência material dos irmãos aqui na terra, por outro lado, não nos isola da Comunhão dos Santos. O Concílio Vaticano II disse que: 
"A união dos cristãos na terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo, de maneira nenhuma se interrompe [com a morte], ao contrário, conforme a fé perene da Igreja, vê-se fortalecida pela comunhão dos bens espirituais" (LG, nº 49). 
No Céu tornaremos a ver os nossos queridos e os reconheceremos. "A contemplação da Essência divina  diz S. Tomás de Aquino " não absorve os santos de maneira a impedir"lhes a percepção das coisas sensíveis, a contemplação das criaturas e a sua própria ação. Reciprocamente, essa percepção, essa contemplação e essa ação não os podem distrair da visão beatífica de Deus. Assim era em relação a Nosso Senhor aqui na terra" (Suma Teológica 30,84). 

Disse Santo Agostinho que os bem-aventurados formarão uma cidade, onde terão todos uma só alma e um só coração, de tal sorte que, na perfeição dessa unidade, os pensamentos de cada um não serão ocultos aos outros. 
São Francisco Xavier, lá das Índias, escrevia a Santo Inácio de Loyola, seu pai espiritual: "Dizeis, no excesso de vossa amizade por mim, que desejareis ardentemente ver"me ainda uma vez antes de morrer. Ah! só Deus, que vê o interior dos corações, sabe quão viva e profunda impressão causou em minha alma este doce testemunho de vosso amor para comigo. Cada vez que me lembro dele " e isso se dá muitas vezes " involuntariamente me correm lágrimas dos olhos. Peço a Deus que, se não pudermos nos tornar a ver na terra, gozemos unidos na feliz eternidade o repouso que não se pode encontrar na vida presente. De fato, não nos tornaremos a ver na terra senão por meio de cartas. Mas no Céu, ah! Se-lo-á face a face! E então como nos abraçaremos! " (Cartas de São Francisco Xavier, 93, nº 3). 
São Francisco de Sales dizia: "Oh! como é bom amar na terra como se ama no céu e aprender a estimar"nos nesta vida como nos havemos de estimar e querer eternamente na outra". (O Breviário da Confiança, Ed. Rosário, pg 346). 

É a virtude teologal da esperança em Deus, e na vida eterna no Céu, pelos méritos da morte e ressurreição de Jesus, que dá vida à nossa caminhada na terra.  Santa Maria Egípcia, após a sua maravilhosa conversão, viveu no deserto, por mais de cincoenta anos, na mais dura penitência. Próximo da sua morte, São Zózimo lhe perguntou como ela pudera suportar, naquele lugar de horrores, uma vida tão austera. E a resposta foi essa: "Meu padre, com a esperança do Céu"!  É essa "esperança do Céu" que precisa ser re-semeada sobre a terra. Para muitos o Céu já nem existe mais ... Que tristeza! 

A busca da santidade exige que tenhamos sempre em mente a nossa situação de "peregrinos" neste mundo, caminheiros em direção à Casa do Pai. É preciso desejar essa Casa eterna assim como o povo de Deus, peregrinando os quarenta anos no deserto, ansiava pela terra prometida, onde "corria leite e mel". Sem essa perspectiva não podemos ser santos. 
A Igreja sempre se considerou uma "exilada" neste mundo; sabemos que a palavra "paróquia" quer dizer "terra de exílio". São Paulo tem uma frase lapidar dita aos Filipenses: 
"Nós somos cidadãos do Céu!" (Fil 3,20). E mostrava a sua esperança: 
"É de lá que também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará nosso corpo miserável, para que seja conforme o seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de submeter a si toda a criatura" (20"21).
A esperança do Céu e da sua glória fazia o Apóstolo dizer: 
"Os olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), o que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Cor 2,9).
E essa esperança lhe dava as forças necessárias para vencer as tribulações: 
"Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada" (Rom 8,18).
"A nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, produz em nós um peso eterno de glória incomensurável" (2 Cor 4,17).

O santo sabe que esta terra é um "lugar de exílio" de nossa alma. "Sabemos que, todo o tempo que passamos no corpo, é um exílio longe do Senhor" (2 Cor 5,5). "Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo, para ir habitar junto do Senhor" (8). 
São Paulo vislumbrava o céu como uma "mansão eterna"! 
"Sabemos, com efeito, que, quando for destruída esta tenda em que vivemos na terra, temos no céu uma casa feita por Deus, uma habitação eterna, que não foi feita por mãos humanas". (2 Cor 5,1). É assim que o Apóstolo vê o nosso corpo glorioso no Céu. Esta esperança não permite que desanimemos com o passar dos anos e com a chegada da velhice. 

"É por isso, que não desfalecemos. Ainda que em nós se destrua o homem exterior, o interior renova-se de dia para dia" (2 Cor 4,16). O que importa é que a alma se renova a cada dia, se santifica, para viver em Deus. 
Como Jesus falou do céu! 
No Sermão da Montanha ele insistiu: "Não ajunteis para vós tesouros sobre a terra ... Ajuntai para vós tesouros no Céu ... porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração" (Mt 6, 19"21). 
O tesouro e o coração do santo estão no Céu, o qual ele sabe que conquista aqui na terra, por isso ele não é um alienado. 
Ao moço rico Jesus disse: "Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, e dá aos pobres, terás um tesouro no Céu" (Mt 18,21). 

A vida presente é "tempo de graça" que Deus nos dá para acumularmos tesouros nos Céus, com os méritos de nossas boas obras. Por isso é preciso aproveitar bem o tempo presente que se chama "hoje". Após a morte não será mais possível adquirir méritos. São Paulo o diz: "Porque importa que todos nós compareçamos diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo" (2 Cor 5,10); e essa estadia no corpo será única, e não como se enganam os que crêem, perigosamente, na reencarnação. "Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o Juízo" (Heb 9,27). Esse versículo da Carta aos Hebreus liquida a fantasia perigosa da reencarnação. Somos salvos pelo Sangue do Senhor, e não por sucessivas reencarnações "purificadoras". Ao bom ladrão Jesus disse: "Hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23,43). Esse "hoje" dito por Jesus elimina a chance de qualquer reencarnação. Não foi preciso que Dimas se reencarnasse muitas vezes para ser salvo. 
Toda a vida e a pregação da Igreja, em todos os tempos, é baseada na esperança feliz da ressurreição. O Apóstolo grita: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a nossa fé" (1 Cor 15,14). Por outro lado, se a nossa esperança do Céu é pequena, a nossa vida cristã terrena perde todo o sentido e se esvazia. São Paulo diz algo muito importante sobre isso: 

"Se é só para essa vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima" (1 Cor 15,19). 
Com essas palavras o Apóstolo nos alerta de que, colocar a nossa esperança em Cristo, apenas para vivermos melhor nesta vida, com mais saúde, paz, alegria, dinheiro, etc, esquecendo que somos "cidadãos do céus", é um perigoso engano. Seríamos os mais "dignos de lástima". De fato, que sentido tem tantas horas de oração, tanto tempo de meditação, caridade, esmola, viagens, trabalhos, pregações, lutas, mortificações, jejuns, etc, se esperamos apenas uma recompensa terrena? Seria uma lástima! A vida do cristão, sem a expectativa do céu, é uma frustração tremenda, é algo masoquista. E esta é a razão porque tantos cristãos são tristes; falta-lhes a Esperança cristã. 

É assim que os materialistas e ateus encaram a vida cristã. De que vale sofrer tanto, se tudo termina com a morte? Que adianta toda a espiritualidade cristã se não existe a vida póstuma? É assim que pensam os ateus. O filósofo ateu Shoppenhauer, na sua angústia existencial, sem Deus, dizia que a vida toda do homem era algo muito triste, assim como uma semana: seis dias de dor e um de tédio. 
Também nós cristãos corremos o risco de experimentar esse pessimismo ateu diante da vida, se não alimentarmos na alma um "desejo ardente do céu". 

Jesus disse, bem claro: "O meu reino não é deste mundo" (Jo 18,36). A glorificação da Igreja plenamente, será escatológica, isto é, no fim dos tempos. O reino do cristão não está nesta terra. 
"É no fim dos tempos que será gloriosamente consumada [a Igreja], quando, segundo se lê nos santos Padres, todos os justos, desde Adão, do justo Abel até o último eleito, serão congregados junto ao Pai na Igreja universal" (LG, nº 2).
O Senhor nos chama, a todos, para o Céu, para uma vida eterna Nele, que não tem fim. 
"Que aproveitará ao homem ganhar ao mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?" (Mc 8,36).
Santo Agostinho dizia: "De que vale viver bem, se não me é dado viver sempre? 
Nenhuma atitude nossa, nenhum gesto nesta vida, nenhuma decisão, seja em nossa vida particular, familiar, conjugal, profissional ou espiritual, pode comprometer a conquista da vida eterna em Deus. 

Jesus veio à terra para "tirar o pecado" de nossa alma e nos levar para o Céu. 
"Na casa de meu Pai há muitas moradas... vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais" (Jo 14, 2"3).
O perfume da santidade começará de fato a impregnar a nossa vida quando pudermos repetir com São Paulo: 
"Suspiramos e anelamos ser sobrevestidos da nossa habitação celeste (...) pois, enquanto permanecemos nesta tenda, gememos oprimidos ..." (2 Cor 5,2s). 

No Sermão da Montanha Jesus deixou claro que nada deve comprometer a conquista da vida eterna: 
"Se a tua mão te escandaliza, corta-a; se o teu olho te escandaliza, arranca-o. É melhor para ti entrares na vida eterna somente com uma mão ou somente com um olho, do que com ambas as mãos e com os dois olhos seres jogado na geena eterna" (Mt 5,29"30). 
Pelos merecimentos de Jesus, somos "filhos de Deus". 
"Mas a todos aqueles que o receberam aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus" (Jo 1,12). Somos "participantes da natureza divina" (2 Pe 1,4), diz São Pedro, logo, somos herdeiros do céu. "Se somos filhos, também somos herdeiros" (Rom 8,17). 

"Desejar o paraíso, disse São Afonso de Ligório, é o mesmo que desejar a Deus, nosso fim último." A nossa meta, aspirações e desejos, deve ser esta, ensina o santo doutor: 
"Ir gozar de Deus no paraíso, para amá-lo com todas as nossas forças!" 
"Entra no gozo do teu Senhor" (Mt 25,21).
No céu, ensina, "a felicidade de Deus é a felicidade do bem-aventurado".
Dessa forma, o bem de Deus será o nosso bem e a riqueza de Deus será a nossa riqueza. 
São Francisco de Assis, pensando no céu, dizia: "É tão grande o bem que espero, que todo sofrimento me é um grande prazer". 
No "Capítulo das esteiras", em Santa Maria de Assis, ele disse aos seus cinco mil frades: 
"Filhos meus... pequena é a pena desta vida mas a glória da outra vida é infinita".
São Tomás de Aquino ensina que o grau mais alto de caridade a que pode chegar uma alma nesta vida, é desejar intensamente ir unir-se com Deus e gozar dele no Céu. (Suma Teológica, II"II, q. 24,9,c). 
A Igreja nos ensina que o maior sofrimento das almas do purgatório é exatamente o desejo de possuir Deus que ainda não possuem. Baseado nisto, Santo Afonso de Ligório diz que: "Esse sofrimento afligirá especialmente aqueles que durante a vida, desejaram pouco o Céu". São Roberto Belarmino fala de um "cárcere de honra" no purgatório, onde algumas almas não sofrem nos sentidos, mas somente a privação da visão de Deus. "Esse sofrimento lhes é dado  explica Santo Afonso " não pelos pecados cometidos, mas pela frieza com que desejaram o paraíso".( "A Prática do Amor a Jesus Cristo", Ed. Santuário de Aparecida, pag. 215). 

Não podemos buscar a perfeição e a santidade, encarando com indiferença o Céu. A vida eterna é uma conquista de Jesus para nós, com o seu amor, sua cruz, seu sangue e sua vida. Desejar pouco o Céu é menosprezar tudo o que o Senhor fez por nós e quer de nós. 
É preciso desejar ardentemente o Céu, pois desejar o Céu é desejar o próprio Deus. 
No seu livro "A Poderosa Unção do Espírito Santo" (Raboni Editora), o padre Raniero Cantalamessa, pregador do Papa e da Casa Pontifíca há 17 anos, faz um alerta gravíssimo: 
"Porque eternidade é uma palavra morta; deixamo-la morrer, como se deixa morrer uma criança abandonada (...) A lâmpada foi silenciosamente recolocada embaixo da mobília, a bandeira foi arriada como a de um exército em retirada. Esse fenômeno tem um nome bem preciso: chama-se secularização. Secularização significa esquecer ou colocar entre parentesis a eternidade para ligar"se ao século, isto é, ao tempo presente. Essa é considerada a maior e mais perigosa heresia da nossa época e infelizmente estamos todos, mais ou menos, contaminados. Somos todos, nesse sentido, hereges!"

Essas palavras do "pregador do Papa" diante de cerca de sessenta mil pessoas, durante a XII Convenção Nacional da Renovação no Espírito, em Rimini (24/4/89), são gravíssimas. Desprezar a vida eterna, desprezar o Céu, é o mesmo que matar Deus na nossa vida e viver como pagão. 

O Catecismo da Igreja Católica começa dizendo: 
"Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, num desígnio de pura bondade criou livremente o homem para  faze-lo participar de sua vida bem"aventurada"(nº 1); isto é, Deus nos criou para o Céu; para participarmos da Sua própria felicidade.
A felicidade do Céu consiste em possuirmos a Deus e sermos possuídos por Ele numa união tão absoluta e completa que jamais poderemos imaginar aqui nesta vida. Todos os desejos e aspirações do coração humano serão então satisfeitos. E esta felicidade será eterna, isto é, um instante "que não passa", um agora sem fim; não acabará nunca. Estaremos de posse do Amor. 
Deus, infinitamente bom, ao nos criar à "sua imagem e semelhança", colocou em nosso coração uma ânsia de felicidade perfeita, que Ele saciará no céu, e só no céu. Nada nesta vida pode satisfazer plenamente o nosso coração. No Céu, seremos felizes com a máxima capacidade do nosso coração, sobretudo, por sabermos que esta felicidade está assegurada para sempre. O oposto disso será o inferno, a frustração absoluta e também eterna. 
Certa vez um jovem foi para a guerra; e lá recebeu de sua mãe um jornal de sua terra. Viu nele a foto de uma jovem que o encantou. Começou a se corresponder com ela; trocam fotos e experiências, enamoram-se um pelo outro, mesmo sem se conhecerem pessoalmente. O amor mútuo, mesmo à distância, os fez melhores, mais aplicados e bons, por amor ao outro. No coração de ambos cresceu o desejo de se encontrarem, se casarem, terem filhos, e viverem juntos para sempre. 
A guerra acabou, ele voltou para casa. Na estação do trem ela o aguarda ansiosa, depois de dois anos de espera e de fidelidade. Quando o trem chega, ele desembarca e se abraçam fazendo vibrar todas as fibras do corpo. Ele a toma nos braços e lhe diz: "Ah ! se este momento pudesse se tornar eterno!" 
É a felicidade do amor alcançado e concretizado na posse da pessoa amada. Este é um exemplo imperfeito do que será o Céu. 
O Espírito Santo não nos é dado para vivermos mais e melhor nesta vida; e sim para levar-nos para o alto, para acender em nós a "nostalgia do eterno" como diz o padre Cantalamessa. 

Vale a pena buscar a santidade! 
É o que o grande Apóstolo recomendava a seu discípulo: 
"Combate o bom combate da fé. Conquista a vida eterna, para a qual foste chamado..."(1Tm 6,12). 
Santa Teresinha do Menino Jesus, como todos os santos, ansiava pelo Céu. Ela escreveu:
"Lá não encontraremos olhares indiferentes nem invejosos, porque a felicidade de cada um será a de todos. entre os mártires nos assemelharemos aos mártires; entre os doutores, aos doutores; entre as virgens, às virgens. Assim como numa família, todos, sem inveja, confiam uns aos outros, assim nos haveremos no Céu com os nossos irmãos. Julgais que os grandes santos, conhecendo quanto devem às almas pequeninas, ao vê"las no Céu não as amarão com um amor sem igual? Haverá lá, certamente, muitas simpatias deliciosas e surpreendentes. O privilegiado de um apóstolo, de um grande doutor, será talvez um pequenino selvagem; o amigo íntimo de um patriarca, uma simples criança. Oh! Como eu quisera estar nesse reino de amor! 
Como tenho sede dessa mansão bem-aventurada!" 

Santo Agostinho dizia sobre o Céu: 
"Um eterno repouso deveria ser comprado por um trabalho eterno. Mas como é grande a Misericórdia Divina ! Deus não nos diz: trabalhai um milhão de anos, nem  mil anos, mas sim trabalhai, sofrei durante o pouco tempo que viveis na terra e adquirireis um repouso sem fim". 
A uma jovem que ia receber o hábito religioso no Convento, disse Santa Catarina de Gênova! 
"Que a eternidade esteja em vosso espírito; o mundo sob os vossos pés; a Vontade de Deus em todas as vossas ações e que o Amor Divino brilhe em vosso coração!" É o caminho da santidade e do Céu!


Do Livro: "Sede Santos!" Prof. Felipe Aquino




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